24 de ago. de 2009

Brasília é uma grande imobiliária, diz Aldo Paviani

- UnB Agência

http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=1899

Geógrafo e professor emérito da UnB mostra como modelo excludente da criação da capital se repete na expansão urbana atual

Kennia Rodrigues - Da Secretaria de Comunicação da UnB

A menos de um ano de seu cinquentenário, Brasília sofre as consequências de um erro gerado antes mesmo de sua inauguração, em 1960: a exclusão socioespacial. O transporte ineficiente, a devastação do cerrado e a especulação imobiliária são alguns dos efeitos da lógica elitista gerada por um centro do poder distante da periferia, como relatou o professor emérito da Universidade de Brasília Aldo Paviani.

Em conferência no Auditório da Reitoria, Paviani resgatou a lógica da criação da "capital da esperança" e mostrou como hoje essa concepção é repetida por interesses políticos e comerciais. Geógrafo e grande estudioso da dinâmica urbanista e social de Brasília, Paviani diz que a distorção “genética” de Brasília é copiada na expansão urbana desenfreada.

Isabela Lyrio/UnB Agência
Aldo Paviani: cidadãos são pacientes da urbanização segregatória

“Costumo dizer que Brasília é uma grande imobiliária. Aqui a Terracap tem grande parte das terras nas mãos. O GDF licita, mas a terra é esgotável”, ressaltou. Empreiteiros, lobistas comerciantes e políticos se associam para os grandes empreendimentos. “O meio ambiente é degradado, como se não dependêssemos dele. Quando o Noroeste for construído, três nascentes serão afogadas”, lembrou.

A exclusão socioespacial começou com o polinucleamento de Brasília, em 1958. Cidades como Taguatinga foram construídas dispersas no território, apenas para habitação e de forma improvisada para assentar trabalhadores da construção. “Taguatinga foi criada para não deixar os trabalhadores ocuparem as terras que deveriam ser ocupadas pela elite”, disse o professor.

As outras cidades como Gama e Núcleo Bandeirante também foram construídas unicamente para habitação. Os resultados são a grande concentração de empregos no Plano Piloto e a ineficácia na mobilidade entre as regiões, com uma crescente frota de veículos e de transporte coletivo deficiente.

Outra repetição do processo de segregação se deu no governo Roriz, com a distribuição de lotes sem condições básicas de saúde e de educação. "Os cidadãos ficam pacientes da urbanização, que os jogam na periferia, sob todos os encargos, como o difícil deslocamento. Há pessoas que não têm condições nem de procurar emprego", disse Paviani.

Isabela Lyrio/UnB Agência
Reitor da UnB diz que crítica à capital é importante para análise da universidade

BRASÍLIA 50 ANOS - A palestra de Paviani integra o calendário de atividades da Comissão UnB 50 anos de Brasília. O encontro reuniu estudantes, professores e membros do comitê. Presidente da comissão e reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Junior, disse que a análise crítica sobre a capital é oportuna para repensar a dinâmica de expansão universidade.

"Somos uma universidade inserida nesse processo, sobretudo agora que não somos só uma universidade unicampi, somos multicampi", disse. "Portanto, temos o desafio de não aceitarmos a segregação, mas sermos uma universidade permanente e unida", disse.

Arquiteto, professor da UnB e membro da comissão UnB 50 anos de Brasília, José Carlos Cordova Coutinho, assistiu à conferência na plateia. Depois, relembrou que, apesar das falhas de planejamento, o plano de Lúcio Costa precisa ser preservado em suas qualidades. "Gostemos ou não, essa é a proposta original. Agora temos que trabalhar para que Brasília não seja prematuramente uma das ruínas mais belas da modernidade", disse.

Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.